Só o ser humano faz Arte

A Arte é mais que expressão pessoal ou uma forma de conhecimento, é um ato de criação e como tal, um ato de Amor.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

SEDA PURA


Num balcão comum de feira, vários retalhos estavam expostos `a vista dos compradores. Diversas mãos passavam pelos tecidos, deixando escorrer por entre os dedos, as texturas lisas e ásperas de cada um. Uns mais coloridos, outros menos estampados. Aos olhares atentos e desatentos, um pedaço de pano azul simples de seda pura, passsava de lá para cá. Nada havia nele que chamasse atenção. Nem bordado, nem estampa, nem coisa alguma que o valorizasse com relação aos outros. Era um simples pedaço de pano azul.
As mulheres pegavam os tecidos colocando-os na frente do corpo, caindo pelos braços , em volta do corpo enviesadamente, até mesmo ao redor da cintura, como saia e compravam. Pediam, puxavam, pechinchavam, discutiam... e o mascate faliez de lado a lado, concordava com todas. O desejo dele era simples: vender todo e qualquer pedaço de tecido barato como se fosse renda brocada ou seda pura.
Quase toda a banca vendida, sobrava apenas em meio alguns pedação de algodão e chita, um pedaço de tecido azul, simples, puríssimo, mas nada o destacava dentre os demais.
Certo momento, passou alguém e pediu que pudesse ver, melhor, tocar, o pedaço de tecido azul. O mascate não reconheceu quem era e de cabeça abaixada, pegou o pano pedido, dizendo:
_ Já vou avisando – não dou desconto; está tudo em promoção, preço de ocasião, é para acabar.
_ O sr. fala sério? Indagou o comprador.
O vendedor levantou a cabeça e disse: - já vendi quase tudo, mostrando os bolsos cheios de dinheiro amassado. Tudo valia quase a mesma coisa e vendi tudo por mais, de acordo com o desejo e a cara do fregues.
­ E este, por quanto o senhor faz?
­ Dois reais o metro.... este debe ter no máximo um metro e meio, fica por 3 reais.
­ Está feito, três reais.
Enquanto embrulhava, o mascate percebeu que o comprador não tirava os olhos do pano, como que maravilhado. Reconhecendo o comprador como um dos melhores alfaiates do país, decidiu perguntar
_ Mas o senhor, exímio conhecedor de tecidos vem a uma feira destas em busca de que?
_ De nada em especial, apenas olhando, respondeu o alfaiate , pagando e abraçando o pequeno embrulho. Entretanto, o que o senhor me vendeu não tem preço.
_ Como assim? Quis saber o outro estupefato!
_ Este é uma pedaço de seda pura que debe ser datado do século 300 a.C. Valiosíssimo, perdido aquí no meio de tanto tecido barato , so bons olhos e mãos delicadas poderiam identificá-lo e valori-zá-lo. E foi o que aconteceu. E saiu com o seu pacote de seda pura, enquanto o outro apenas de boca aberta ficava pensando nos milhões que poderia ter ganho e esqueceu-se até de tanto dinheiro que já tinha faturado naquela feira.